sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Leve
DonaZica
Composição: Iara Rennó e Alice Ruizé o de menos
a vida inteira pode ser
qualquer momento
ser feliz ou não
questão de talento
Leve a semente vai
onde o vento leva
gente pesa
por mais que invente
só vai onde pisa
terça-feira, 19 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Eu penso em constância. Em algo pra sempre perdido. Penso ter atingido a nulidade necessária pra deixar estar, mas me pego perdendo nos muros os buracos que permitem enxergar do outro lado.
Penso ter atingido alguma coisa. Que coisa? Ora, nem sei... mas algo há de chegar.
Nem que seja a fome que se sacie ou se consume. Nem que seja o corpo que, contornando, se esgote... no próprio esgotamento do impossível de se esgotar.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
O autor, segundo contou hoje na conversa "autores e idéias" promovida pelo Sesc-Londrina; escreveu esta crônica (?) à pedido de um jornal, quando do dia que São Paulo parou, por conta do PCC. Marcelino então relata que assistia a rede de tv, quando de uma propaganda com atores vestidos de branco e segurando uma rosa vermelha chamavam, não, chamavam não - segundo Marcelino, convocavam! a população a sair à rua em passeata no domingo, pela paz.
Eu não sou da paz.
Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.
Uma desgraça.
Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator?
Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador. Vou não.
Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.
A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora. Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca. A paz é pálida. A paz precisa de sangue.
Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha. Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo. Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou. Não vou.
Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços. Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?
Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, ao lado de polícia. Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no peito. Sem fim. Ai que dor! Dor. Dor. Dor.
A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo mundo. Eu matava, pode ter certeza. A paz é que é culpada. Sabe, não sabe?
A paz é que não deixa.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
(SERGIO SAMPAIO)
UM LIVRO DE POESIA NA GAVETA
NÃO ADIANTA NADA
LUGAR DE POESIA É NA CALÇADA
LUGAR DE QUADRO É NA EXPOSIÇÃO
LUGAR DE MÚSICA É NO RÁDIO
ATOR SE VÊ NO PALCO E NA TELEVISÃO
O PEIXE É NO MAR
LUGAR DE SAMBA ENREDO É NO ASFALTO
LUGAR DE SAMBA ENREDO É NO ASFALTO
AONDE VAI O PÉ ARRASTA O SALTO
LUGAR DE SAMBA ENREDO É NO ASFALTO
AONDE A PÉ VAI SE GASTA SOLA
LUGAR DE SAMBA ENREDO É NA ESCOLA
sábado, 31 de julho de 2010
O que têm em comum a arte, a psicanálise e a feminilidade? Que as três andem às voltas com a falta – até aí, nada de novo. Mais vale
dizer que a partir da falta, ou do vazio, ou de como quer que se nomeie isto que não há, tanto a psicanálise quanto a arte são expressões
do inacabado – o que faz com que só existam em estado de constante mutação. A feminilidade, não como aquilo que é próprio das
mulheres mas como aquilo que sabe gozar um pouco além do falo, nem sempre se põe mutante - mas tem certamente este potencial. Uma
vez que não gira (apenas) em torno do falo, pode arriscar movimentos centrífugos em direção a não sei onde. Uma vez que não se
constitui a partir de uma obsessão em evitar a castração, a feminilidade é um modo de gozar que pode arriscar um pouco mais na direção
de uma desmesura, ou seja, que aceita correr o risco de esbarrar na angústia, ou mesmos de ir um pouco além. Daí que, é claro, todo
artista, seja homem ou mulher, acaba (ou começa) por saber algo a respeito da tal feminilidade.
http://www.mariaritakehl.psc.br
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Nunca reparei direito em mim - ninguém procura o espelho em movimento. Cínthya é que me alertou que em todo momento descrevo a mastigação do filho. Descrevo não, narro, sou um comentarista esportivo de sua refeição. A cada cinco minutos, espio seu prato e teço um julgamento de seu desempenho.
- Olha o ovo.
- Não esquece a carne.
- Mais um pouco de purê.
- Come mais!
A namorada pretendia dizer que eu era chato, encontrou uma maneira para que suportasse a crítica. Ela é meu espelho em movimento. Falou de lado, contida, como se limpasse o canto dos lábios com o guardanapo:
- Deixe que as coisas sejam naturais.
Eu vi que ela acertou, eu incomodava, repreendia, comentava, educava sem parar. Quase doentio. Serei franco: absolutamente doentio!
Ao experimentar um momento alegre, estou confessando que é alegre na largada. Defino antes de concluir. Se o filho é gentil, escrevo carta de recomendação. Se surge nervoso, atravesso a madrugada criando teses. Não há descanso. O certo e o errado estão no sangue.
Sou um pai insistente e cansativo. Necessário, porém desagradável. Acho que nunca mais serei espontâneo.
Descobri junto dessa observação que o amor dos pais não é mesmo natural. É teatral. Histriônico. Parece falso quando autêntico. Por isso, irrita na infância, enjoa na adolescência, ocupa metade das análises nos consultórios durante a fase adulta.
Pai não tem rosto, mãe não tem rosto, são caricaturas. Traços rápidos para apressar a identificação.
Não conseguimos nos controlar. É reiterar um cuidado até ultrapassar a redundância, é não abolir nenhuma prevenção. Nasce o filho e mergulhamos num estado de pânico completo, numa carência interminável, numa provação incurável. Viramos bulas, cartilhas, manuais, guias, catálogos, explicando de novo o que foi entendido.
Só é natural quem não ama. Somos despojados quando não temos interesse. Atuamos por comandos: sim, não, e deu. Nenhum desespero, nenhuma miséria no abraço, nenhuma insistência.
O que me põe a afirmar que um casal enamorado é formado de péssimos atores. Vai trocar juras ridículas, alternar diminutivos e apelidos, escandalizar restaurantes com exclamações e adjetivos.
Quando a gente se emociona é artificial, uma afronta ao bom gosto.
Enxergar uma família feliz consiste num espetáculo bisonho. Os pais apertam, beijam, afofam, cutucam, gargalham, reclamam e soluçam mais alto do que é aconselhável.
A passionalidade é uma imitação. O afeto é uma dublagem. Queremos tanto provar o que sentimos que passamos da conta.
http://carpinejar.blogspot.com/
Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. [...]
Caio F. Abreu, Transformações.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
sábado, 26 de junho de 2010
- Faz assim por mim então – conversava ela com o tempo – então faz assim por mim...
Pensou por um tempo, hesitou, pensou... enfim disse
- Olha-em-volta-vira-a-cabeça-vê-se-tem-alguma-janela-aberta-e-alguém-a-me-olhar!!
Ah... não tinha. Que pena, como queria que tivesse alguém a observá-la. Alguém-admirado-escondido-intrigado. Como queria. Não tinha. Descobre-se assim do véu que te escondia, descobre-se assim tão boba e infeliz.
domingo, 30 de maio de 2010
Tenho andado por aí, sentindo. Tenho acordado com saudades. Receita de família, azeite, queijo ralado e vinho... me deixam querendo repetir, mas uma repetição diferente, em outro lugar. Filha do vento, ele me leva pela janela aberta e deixa-me em meio a marginal. Que coisa louca e linda, pontos infinitos de luzes vindo na minha direção, pode ser um tanto desesperador. Asfaltos depois, metros e esquinas e calçadas e viadutos e sopa e vinho e pão. A gente tenta, faz como dá... jogando meu corpo no mundo, mostrando como sou e sendo como posso!
sábado, 22 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
http://significantess.blogspot.com/
Selecção de Diego Mesa
In Memorial do Convento, Editorial Caminho, 43.ª ed., p. 121
http://caderno.josesaramago.org/2010/05/18/943/
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Creio que entendi sim. Que o encantamento deixa percorrer espaços. Não entendo o que é paixão. O que é apaixonar-se, nem quando ocorre. Quando acontece? Encanto-me quando digo me encantar. Quando minha boca diz as palavras tão leves e brincalhonas, que como bolhas de sabão soltas percorrem o ar e num 'ploc' explodem... respingando orvalho pelos arredores. Não sei como ocorre. Porque não tem de ocorrer sempre do mesmo jeito. E se não ocorre sempre igual, como vou saber quando vem? Vem quando eu disse que chegou! Só assim. E é tudo o que dá pra nomear...
terça-feira, 4 de maio de 2010
São pertinentes estas partículas intercaladas numa concatenação lógica. Isto nos dá que esta sequência seja uma frase. E, gramaticalmente falando, análise morfológica e sintática, as palavras não poderiam estar rearranjadas de qualquer outra forma. Talvez uma ou duas outras formas. Mas o que a faz ser o que realmente é? Vou me reservar o requinte de guardar esta questão.
Adentrando no campo da sexualidade – assunto propriamente de interesse que me faz pulsionar o movimento desta escrita –, temos algum cuidado ao trabalhar os termo, devido a conotação que possam ter, os encargos que podem carregar. Opção sexual não é uma opção! No campo dos estudos sobre Educação Sexual, área que atualmente tenho me dedicado bastante, defendemos o uso da terminologia Orientação Sexual. À exemplo da Rosa dos Ventos, instrumento utilizado na navegação, também a orientação sexual aponta para um pólo. A sexualidade é complexa, dizendo desta forma não se diz muito; mas se diz tudo o que se pode dizer em generalização. Multideterminada por fatores não totalmente esclarecidos e precisos, é a própria 'essência' do SER humano. A multiplicidade de criações e reinvenções do próprio corpo, da mente, da identidade, e de outros fatores que se somam num contexto cultural e político.
Detendo-me mais focadamente, porque afirmei a defesa do uso de Orientação Sexual e não Opção? Simples, ao modo como o psicanalista Jacques Lacan falava da estrutura neurótica na constituição do indivíduo – não é louco quem quer! Afirmo: Não é homossexual quem quer! Tomo plano seguro baseando-me no trabalho da Dra. Mary Neide Damico Figueiró, professora do Departamento de Psicologia Social da Universidade Estadual de Londrina. O livro de sua organização, "Homossexualidade e Educação Sexual: construindo o respeito à diversidade (2007), de sua organização, aborda as questões que o intitulam pautadas em sólido conhecimento na área.
Relatos de histórias pessoais de homossexuais repetem sempre um ponto em comum: o sofrimento. A homossexualidade é apontada como algo que faz sofrer. "É possível garantir que não é opção, primeiramente, porque ninguém escolheria o caminho do sofrimento, pois ser homossexual, na maioria das sociedades, é ser vítima de opressão, desprezo, desamor e incompreensão" (FIGUEIRÓ, 2007, p29). A homossexualidade não raramente é descoberta de forma muito penosa. O sujeito se vê sozinho com sentimentos que a sociedade desaprova e comumente com medo da perda do amor das pessoas que lhe são próximas. Opção? Cito mais um fragmento do livro de Figueiró:
"não é uma questão de opção; é questão de sentimento, pois a pessoa sente desejo e, muitas vezes, apaixona-se por alguém do mesmo sexo, independente de sua vontade, de sua escolha, da mesma forma como um heterossexual sente atração e apaixona-se por uma pessoa do sexo oposto e não sabe explicar porque sente tal atração, não conseguindo mudar essa situação, mesmo que quisesse." (2007, p28)
O psicanalista William Peres (apud FIGUEIRÓ, 2007, p40) nos traz uma visão muito interessante quando afirma que, quando pensamos em homossexualidade, nos ocorre em pensar no sexo entre duas pessoas iguais; e que necessitamos dar um passo em direção a pensar o amor entre duas pessoas iguais, apontando como sendo um obstáculo a isto os nossos preconceitos. O sentir não pede RG, não questiona seu endereço, situação social ou quaisquer outros pré-requisitos. E a sensibilidade física e emocional do humano é construída.
Mary Neide se vale da citação de Ann Landers, uma colunista americana, quando diz que poucas coisas na vida são cem por cento, e no campo da sexualidade trabalhamos com nuances. Isto diz que se traçarmos uma linha horizontal que vai de um ponto A, que seria homossexualidade, até um ponto B, indicando heterossexualidade, não raro, os homens e mulheres tem deslizamentos por este eixo durante sua vida. É uma hipótese interessante que o próprio Freud defendeu num momento de sua construção da teoria psicanalítica, o da potencialidade bissexual do ser humano; posteriormente abandonando-a por abordar a sexualidade a partir de outra perspectiva. Mas posso citá-lo no que diz numa carta à uma mãe que lhe escreve sobre seu filho: Homossexualidade não é seguramente uma vantagem, mas não há porque se ficar envergonhado, com isso, pois não é vício, nem degradação e nem pode ser classificada como uma doença, (2006, p?).
José Ângelo Gaiarsa, também psicanalista, defende que "o corpo humano, tanto do homem como o da mulher, é basicamente semelhante na forma, na consciência, no calor e na sensibilidade", (apud: FIGUEIRÓ, 2007, p41). Caio Fernando Abreu, escrito e homossexual assumido é muito feliz quando poeticamente diz "só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ter genitália igual, e isso é detalhe".
Ao abandonar a perspectiva de abordar o Inconsciente relevando importância para os papéis sociais identitários neste eixo, Freud dá um salto em reconhecer a potência do desejo. Que de desejo e por ser desejo, em si, simplesmente deseja.
Houve um período em que a homossexualidade era considerada uma doença, integrava a CID-10 (Código Internacional de Doenças) e o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), ambos instrumentos utilizados para o diagnósticos de psicopatologias e transtornos desta ordem. Após longa luta por parte de movimentos relacionados, e algum avanço na perspectiva cultural, homossexualidade saiu destes manuais e hoje é compreendida como um elemento identitário da construção do papel social e da compreensão de si do indivíduo. Constitui em crime ético o profissional, psicólogo/psiquiatra, que abordarem a sexualidade como uma patologia a ser curada.
Neste movimento, percebemos a história se fazendo e refazendo espaços e afetos. Os preconceitos vão sendo superados, o que demonstra algum... avanço. Demonstra ainda o quanto a determinação de nossos tabus e visões são culturais e sofrem influência de elementos e momentos históricos. Defendo, neste ponto, o caráter mutante e não estático da história, que permite-nos rever antigas posições. Permitindo nos com o tempo um outro conhecer. E cada coisa não é o que é, mas o que cada época, geração, faz dela. A própria homossexualidade tem sua história, que por extensa, não abordarei aqui. Apenas insiro a pincelada para ilustrar, citando que há, num conto de Platão, alusão a homossexualidade, (COSTA, 2005). Neste conto de O Banquete, "Assim surgiu o amor", que compõe o primeiro de uma série de contos de uma coletânea sobre a temática sexual; ele fala do mito da alma gêmea, mas aborda a possibilidade de reencontro com esta parte que lhe foi tirada, sendo ela de sexo oposto ou semelhante. Platão teve sua homossexualidade dita não pela primeira vez neste texto. Assim como outros, considerados grandes homens da história, como Michelangelo e Leonardo da Vinci, à título de exemplos.
Retomando a minha pretensa introdução gramatical. Assim como a língua é uma convenção social, isto é, sua morfologia e a estrutura que a torna inteligíveis. Também os processos identitários. Por chamarem-se papéis, podemos questionar de sua rasura... re-fazer histórico... É fato que as sociedade vão se tornando mais permissíveis conforme vão clareando conhecimentos sobre os fatos antes desconhecidos – e nisto a ciência presta grande auxílio. Concluindo, faço uso das palavras do Grupo Gay da Bahia, "As pessoas geralmente temem aquilo que não entendem, e odeiam aquilo que temem", (FIGUEIRÓ, 2007, p28).
Uma nota sobre Ser e Sentir: O Ser está intrincado, indissociável dos sentidos, dos afetos. Em todas as suas conotações. Há ser sem sentir? O que será que não sente... o que sente aquilo que não é?
Bibliografia
ABREU, C. F. Citação in: http://osapatoblog.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
COSTA, F. M. As cem melhores histórias eróticas da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
FIGUEIRÓ, M. N. D. Homossexualidade e educação sexual: construindo o repeito à diversidade. Londrina: UEL, 2007.
FREUD, S. . Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Era de noite já quando eu me dei conta de que estava sozinha e parada na beira da calçada, na rua, olhando o meio-fio que úmido reluzia por conta da luz que aquele poste lhe refletia. Poeticamente deprimente, este cenário desenhado em tons de azul, clareava... e azulava claramente uma manhã que viria. Decidi-me por sentar e ficar ali. Não me decidi o que faria em seguida - acredito que não me ocorreu pensar. E fiquei ali, não sei ao certo quanto.
E quando novamente me dei por mim, minha embriaguez passava e o sol dava indícios de que logo surgiria. O cheiro de pão vinha daquela tradicional padaria de esquina que toda cidadezinha tem. Não havia há este tempo - Século XXI - leiteiros de porta em porta. Mas o jornaleiro, menino de bicicleta, ainda arremessava o jornal para temor das janelas da vizinhança.
Bati fortemente as mãos nos joelhos e me pus a levantar. Me pus a caminhar. O cheiro de pão ficava para traz e aquele ar fresco demais para um paulistano me enchia o peito. Quase chegava a sufocar. Eu tinha pretensões e não sabia. Desci a rua Humaitá e quando estava já vendo o semáforo, virei à direita. Entrei por aquele bosque que deixava o ar da manhã ainda mais puro e difícil de respirar. São uns impulsos matutinos de quem não sabe explicar... Nunca li Freud com afinco!
Passada totalmente a embriaguez. Na solidez dos sentidos sóbrios... dava 10 da manhã. Eu caminhava por ondes e quandos, sem entender porquê. Apenas um impulso ao movimento. Um desejo de que as pernas flexionassem... de fazer mover, de espacializar o desejo. Isto é tudo. E diversos sons, sotaques me acompanhavam. Eu caminhava pelos caminhos que um dia já passarei!
domingo, 2 de maio de 2010
No texto – curto e pontual –, Eusébio, Greta e Adílio fazem de um encontro, ao acaso, em uma antiga emissora de TV, uma reconstrução do passado e uma recriação para o futuro. A partir do acervo da emissora, que está prestes a se perder, estes três personagens paradigmáticos pensam, conversam a respeito e nos fazem pensar – nós, os leitores – sobre a persistência da memória, o legado a que damos continuidade e que seguirá quando já não mais aqui estivermos, o mal-estar provocado por nossas escolhas e consequentes renúncias que implicam e o papel que o acaso, que a coincidência, tem em nossos encontros e trombadas entre a infância e a velhice, inclusive (e sobretudo) este que ocorre entre os três e que conduz Maçã caramelada.
Adílio, em busca das projeções da infância, nos obriga a repensar a construção da memória e se em nossas estórias existiu algum dia – ou existirá – a História, ou se não passam todas de interpretações, passíveis de cair nas peças em que nos prega a memória, tão esquecida e tão passível de criatividade espontânea, recriando-se. Seria por isso menos válida?
Greta personifica nosso mal-estar contemporâneo, nossa vertigem de possibilidades, a eterna indagação inútil sobre o caminho que não seguimos, as escolhas que não fizemos e a ansiedade que emerge de sua irrealização material, porém acompanhada de sua existência vívida em nossas projeções do que seriam memórias de um fato irrealizado. Reflexo e modelo do que passamos todos nós, homens e mulheres pós-modernos.
Eusébio amarra os dois extremos, o arrependimento e a insaciedade, a projeção e a nostalgia, em um personagem ciente de que “sem registrar os momentos da vida, o passado fica mais difícil de lembrar”, mas tampouco caindo na tentação de acreditar que “porque existe não quer dizer que é eterno”. E, acima de tudo, prezando e pregando o poder da coincidência, “a única coisa em que [conseguiu] acreditar e entender como possível”, “algo revelador das oportunidades que estão em nossa volta”, pois, justamente por “parecer acasos […], revelam um mundo desconhecido que, no entanto, não estava perdido, muito menos era inexistente”.
A chave
Tenho para mim que a chave está em Zaldok. O personagem que nunca sabemos ao certo se existiu, e muito menos quem foi, é uma pessoa distinta na memória de cada um, às vezes mais que um para uma mesma pessoa. Zaldok, personagem associado a valores mágicos de nossa infância, não envelheceu, não morreu, e tem acesso ao lugar onde nossa entrada não é permitida: o futuro.
Se para Eusébio “depois daquela maçã caramelada, tudo foi sorte na vida”, o autor nos diz também que, sim, ele, como nós, entende e sente a angústia da escolha, o medo do esquecimento, a preocupação com a memória no futuro, mas, acima disso tudo, está nos dizendo, nas palavras de Eusébio, que “[aceitemos] as coincidências”, que façamos do passado uma criação dinâmica no presente e uma reatualização no futuro, que deixemos as recordações museológicas de lado, pois não existe nossa História oficial. Seu (meu) passado está tão em transformação quanto o futuro, e aprisioná-lo no arquivo é privá-lo de vida, é assassiná-lo. A maçã caramelada é o presente de Eusébio a Adílio e Greta, é o presente de André Resende a nós.
http://diplo.org.br/2009-03,a2825
quinta-feira, 29 de abril de 2010
...na virada, parece que a vida parou. porque o mundo todo parou pra você!