sábado, 31 de julho de 2010

Trecho de "o peso da feminilidade". De quando eu buscava no movimento, a arte e o descontorno. Quando não entendia direito o transbordamento e a possibilidade da angústia. Mas enquanto dava passos pra entender o movimento, e escrevinhante... partegei o último post!

O que têm em comum a arte, a psicanálise e a feminilidade? Que as três andem às voltas com a falta – até aí, nada de novo. Mais vale
dizer que a partir da falta, ou do vazio, ou de como quer que se nomeie isto que não há, tanto a psicanálise quanto a arte são expressões
do inacabado – o que faz com que só existam em estado de constante mutação. A feminilidade, não como aquilo que é próprio das
mulheres mas como aquilo que sabe gozar um pouco além do falo, nem sempre se põe mutante - mas tem certamente este potencial. Uma
vez que não gira (apenas) em torno do falo, pode arriscar movimentos centrífugos em direção a não sei onde. Uma vez que não se
constitui a partir de uma obsessão em evitar a castração, a feminilidade é um modo de gozar que pode arriscar um pouco mais na direção
de uma desmesura, ou seja, que aceita correr o risco de esbarrar na angústia, ou mesmos de ir um pouco além. Daí que, é claro, todo
artista, seja homem ou mulher, acaba (ou começa) por saber algo a respeito da tal feminilidade.

http://www.mariaritakehl.psc.br
A poesia transborda. E angustia. O mal-estar que não dissolve e deixa faltante a tentativa de qualquer desenho, é também o princípio de movimento. A identificação falha. O que torna possível o criar. A poesia transborda... e angustia! ...às vezes preciso de contorno. Alguém que me seja continente, que não me deixe esparramar demais...
Faz um tempo que ando pensando que talvez as palavras são feitas só para nos enganar. Faz sentido por um pensamento. Por dois até... tem esta coisa de querer confundir, sabe?! É um querer meio sem querer, pode até ser... mas sempre que lhe digo o que quer que seja, não importa o quanto procure encontrar as palavras adequadas, você nunca entende o que digo. Talvez mesmo porque as palavras sejam, já elas mesmas, impróprias. Ou talvez porque existe este vazio que fica entre mim e você, além do vazio entre mim e o mim que quer dizer o que eu quero dizer.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

 Hoje, agora. Quando saia do restaurante, fim de almoço, deparei com um cartaz do sesc que anunciava algumas conversas com escritores em algumas de suas unidades em cidades escolhidas. Uma destas cidades seria Londrina. Reconheci meio imprecisa aquelas duas palavras... Fabrício Carpinejar. Lembrei me então de outras duas André Xavier! Justamente quem me apresentara de relance Carpinejar. E agora, frente ao computador, buscando o blog de Carpinejar que tão saboroso se apresenta, deparei com esta crônica delicadamente precisa que posto abaixo, com licença, peço ao autor! Ao fim do texto segue a fonte para quem quiser degustar o blog de Carpinejar, frequentá-lo deliciosamente!


Arte de Paul Klee


Minha preocupação é primeiro fazer Vicente comer, já que é o menor. Depois é que posso saborear a comida. Tenho que cumprir a paternidade para me atender. Sempre chego atrasado aos talheres, a sorte é quando a comida não esfria.


Nunca reparei direito em mim - ninguém procura o espelho em movimento. Cínthya é que me alertou que em todo momento descrevo a mastigação do filho. Descrevo não, narro, sou um comentarista esportivo de sua refeição. A cada cinco minutos, espio seu prato e teço um julgamento de seu desempenho.


- Olha o ovo.
- Não esquece a carne.
- Mais um pouco de purê.
- Come mais!


A namorada pretendia dizer que eu era chato, encontrou uma maneira para que suportasse a crítica. Ela é meu espelho em movimento. Falou de lado, contida, como se limpasse o canto dos lábios com o guardanapo:


- Deixe que as coisas sejam naturais.


Eu vi que ela acertou, eu incomodava, repreendia, comentava, educava sem parar. Quase doentio. Serei franco: absolutamente doentio!


Ao experimentar um momento alegre, estou confessando que é alegre na largada. Defino antes de concluir. Se o filho é gentil, escrevo carta de recomendação. Se surge nervoso, atravesso a madrugada criando teses. Não há descanso. O certo e o errado estão no sangue.


Sou um pai insistente e cansativo. Necessário, porém desagradável. Acho que nunca mais serei espontâneo.


Descobri junto dessa observação que o amor dos pais não é mesmo natural. É teatral. Histriônico. Parece falso quando autêntico. Por isso, irrita na infância, enjoa na adolescência, ocupa metade das análises nos consultórios durante a fase adulta.


Pai não tem rosto, mãe não tem rosto, são caricaturas. Traços rápidos para apressar a identificação.


Não conseguimos nos controlar. É reiterar um cuidado até ultrapassar a redundância, é não abolir nenhuma prevenção. Nasce o filho e mergulhamos num estado de pânico completo, numa carência interminável, numa provação incurável. Viramos bulas, cartilhas, manuais, guias, catálogos, explicando de novo o que foi entendido.


Só é natural quem não ama. Somos despojados quando não temos interesse. Atuamos por comandos: sim, não, e deu. Nenhum desespero, nenhuma miséria no abraço, nenhuma insistência.


O que me põe a afirmar que um casal enamorado é formado de péssimos atores. Vai trocar juras ridículas, alternar diminutivos e apelidos, escandalizar restaurantes com exclamações e adjetivos.


Quando a gente se emociona é artificial, uma afronta ao bom gosto.


Enxergar uma família feliz consiste num espetáculo bisonho. Os pais apertam, beijam, afofam, cutucam, gargalham, reclamam e soluçam mais alto do que é aconselhável.


A passionalidade é uma imitação. O afeto é uma dublagem. Queremos tanto provar o que sentimos que passamos da conta.


http://carpinejar.blogspot.com/
Sua invisibilidade no entanto não o invisibilizava: encadernava-o meticulosa em um determinado corpo e uma voz particular e uns gestos habituais e alguns trejeitos pessoais que, aparentemente, eram ele mesmo. Por isso não é verdade que não o veriam. Veriam e viam, sim, aquela casca reproduzindo com perfeição o externo dele. Tão perfeito que nem ao menos provocava suspeitas aumentando as pausas entre as palavras, demorando o olhar, ralentando o passo daquele falso corpo.
Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. [...]


Caio F. Abreu, Transformações.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

                                                                                                       [ansiedade.jpg]



volta então.... Não se perca de mim. Tira este pretenso sorriso de escárnio dos lábios e me olha de frente. Bem sabes o quanto desejo. Sabe. Sabe sim! Mas que farei? Chorar em prantos enquanto te enterras por estradas e trilhas inexploradas? E para quê? Sempre pertencemo-nos pois sempre nos mantivemos livres. Então vai. Só não se perca de mim. Não vamos nos perder. Então volta qualquer dia, ou diga que jamais voltará...
 

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