terça-feira, 18 de maio de 2010

(Ysé) - Não vá.
(De Ciz) - Mas, estou-lhe dizendo, é absolutamente necessário!
...
(Ysé) - Amor, não vá...
Pela segunda vez eu lhe peço que não me abandone mais e não me deixe sozinha.
Você me censurava por ser orgulhosa, por nunca querer dizer nem pedir nada. Pois bem, fique satisfeito. Eis-me humilhada.
Não me abandone mais. Não me deixe mais só.

Amavelmente estúpido, ele não entende nada e acha que pode se vangloriar:
- Então, no fim, a gente tem de confessar que precisa mesmo do marido! etc.

É quando ela lhe sussurra uma dúvida:
Não confie muito em mim.

Ele não acredita nisso, Ysé tem que esclarecer:
Não sei, sinto em mim uma tentação...
E peço que não me venha essa tentação, porque não convém...

Pronto, o dito escapou. Não era contra os perigos da China que ela fazia seu apelo, mas contra a coisa mais próxima. Em síntese, Ysé lhe diz: projeta-me de mim mesma. Uma passagem suprimida na versão para o palco, e recuperada na nova versão de 1948, diz, de maneira ainda mais crua, para que serve um marido, pelo menos para Ysé:

Afinal, eu sou mulher, não é tão complicado assim.
De que precisa uma mulher
Senão de segurança, como a abelha atarefada na colméia,
Limpinha e bem fechada?
E não esta liberdade assustadora! Acaso não me entreguei?
E queria pensar que agora estaria muito tranquila,
Que estava garantida, que sempre haveria alguém comigo
Para me conduzir, um homem...


Trecho do livro O que Lacan dizia das mulheres, Colete Soller.
http://significantess.blogspot.com/

1 comentários:

Ana SSK disse...

Obrigada pelos créditos!

 

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