terça-feira, 4 de maio de 2010

São pertinentes estas partículas intercaladas numa concatenação lógica. Isto nos dá que esta sequência seja uma frase. E, gramaticalmente falando, análise morfológica e sintática, as palavras não poderiam estar rearranjadas de qualquer outra forma. Talvez uma ou duas outras formas. Mas o que a faz ser o que realmente é? Vou me reservar o requinte de guardar esta questão.

            Adentrando no campo da sexualidade – assunto propriamente de interesse que me faz pulsionar o movimento desta escrita –,  temos algum cuidado ao trabalhar os termo, devido a conotação que possam ter, os encargos que podem carregar. Opção sexual não é uma opção! No campo dos estudos sobre Educação Sexual, área que atualmente tenho me dedicado bastante, defendemos o uso da terminologia Orientação Sexual. À exemplo da Rosa dos Ventos, instrumento utilizado na navegação, também a orientação sexual aponta para um pólo. A sexualidade é complexa, dizendo desta forma não se diz muito; mas se diz tudo o que se pode dizer em generalização. Multideterminada por fatores não totalmente esclarecidos e precisos, é a própria 'essência' do SER humano. A multiplicidade de criações e reinvenções do próprio corpo, da mente, da identidade, e de outros fatores que se somam num contexto cultural e político.

            Detendo-me mais focadamente, porque afirmei a defesa do uso de Orientação Sexual e não Opção? Simples, ao modo como o psicanalista Jacques Lacan falava da estrutura neurótica na constituição do indivíduo – não é louco quem quer! Afirmo: Não é homossexual quem quer! Tomo plano seguro baseando-me no trabalho da Dra. Mary Neide Damico Figueiró, professora do Departamento de Psicologia Social da Universidade Estadual de Londrina. O livro de sua organização, "Homossexualidade e Educação Sexual: construindo o respeito à diversidade (2007), de sua organização, aborda as questões que o intitulam pautadas em sólido conhecimento na área.

            Relatos de histórias pessoais de homossexuais repetem sempre um ponto em comum: o sofrimento. A homossexualidade é apontada como algo que faz sofrer. "É possível garantir que não é opção, primeiramente, porque ninguém escolheria o caminho do sofrimento, pois ser homossexual, na maioria das sociedades, é ser vítima de opressão, desprezo, desamor e incompreensão" (FIGUEIRÓ, 2007, p29). A homossexualidade não raramente é descoberta de forma muito penosa. O sujeito se vê sozinho com sentimentos que a sociedade desaprova e comumente com medo da perda do amor das pessoas que lhe são próximas. Opção?      Cito mais um fragmento do livro de Figueiró:

 

"não é uma questão de opção; é questão de sentimento, pois a pessoa sente desejo e, muitas vezes, apaixona-se por alguém do mesmo sexo, independente de sua vontade, de sua escolha, da mesma forma como um heterossexual sente atração e apaixona-se por uma pessoa do sexo oposto e não sabe explicar porque sente tal atração, não conseguindo mudar essa situação, mesmo que quisesse." (2007, p28)

 

O psicanalista William Peres (apud FIGUEIRÓ, 2007, p40) nos traz uma visão muito interessante quando afirma que, quando pensamos em homossexualidade, nos ocorre em pensar no sexo entre duas pessoas iguais; e que necessitamos dar um passo em direção a pensar o amor entre duas pessoas iguais, apontando como sendo um obstáculo a isto os nossos preconceitos. O sentir não pede RG, não questiona seu endereço, situação social ou quaisquer outros pré-requisitos. E a sensibilidade física e emocional do humano é construída.

Mary Neide se vale da citação de Ann Landers, uma colunista americana, quando diz que poucas coisas na vida são cem por cento, e no campo da sexualidade trabalhamos com nuances. Isto diz que se traçarmos uma linha horizontal que vai de um ponto A, que seria homossexualidade, até um ponto B, indicando heterossexualidade, não raro, os homens e mulheres tem deslizamentos por este eixo durante sua vida. É uma hipótese interessante que o próprio Freud defendeu num momento de sua construção da teoria psicanalítica, o da potencialidade bissexual do ser humano; posteriormente abandonando-a por abordar a sexualidade a partir de outra perspectiva. Mas posso citá-lo no que diz numa carta à uma mãe que lhe escreve sobre seu filho: Homossexualidade não é seguramente uma vantagem, mas não há porque se ficar envergonhado, com isso, pois não é vício, nem degradação e nem pode ser classificada como uma doença, (2006, p?).

José Ângelo Gaiarsa, também psicanalista, defende que "o corpo humano, tanto do homem como o da mulher, é basicamente semelhante na forma, na consciência, no calor e na sensibilidade", (apud: FIGUEIRÓ, 2007, p41). Caio Fernando Abreu, escrito e homossexual assumido é muito feliz quando poeticamente diz "só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ter genitália igual, e isso é detalhe".

Ao abandonar a perspectiva de abordar o Inconsciente relevando importância para os papéis sociais identitários neste eixo, Freud dá um salto em reconhecer a potência do desejo. Que de desejo e por ser desejo, em si, simplesmente deseja.

Houve um período em que a homossexualidade era considerada uma doença, integrava a CID-10 (Código Internacional de Doenças) e o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), ambos instrumentos utilizados para o diagnósticos de psicopatologias e transtornos desta ordem. Após longa luta por parte de movimentos relacionados, e algum avanço na perspectiva cultural,  homossexualidade saiu destes manuais e hoje é compreendida como um elemento identitário da construção do papel social e da compreensão de si do indivíduo. Constitui em crime ético o profissional, psicólogo/psiquiatra, que abordarem a sexualidade como uma patologia a ser curada.

Neste movimento, percebemos a história se fazendo e refazendo espaços e afetos. Os preconceitos vão sendo superados, o que demonstra algum... avanço. Demonstra ainda o quanto a determinação de nossos tabus e visões são culturais e sofrem influência de elementos e momentos históricos. Defendo, neste ponto, o caráter mutante e não estático da história, que permite-nos rever antigas posições. Permitindo nos com o tempo um outro conhecer. E cada coisa não é o que é, mas o que cada época, geração, faz dela. A própria homossexualidade tem sua história, que por extensa, não abordarei aqui. Apenas insiro a pincelada para ilustrar, citando que há, num conto de Platão, alusão a homossexualidade, (COSTA, 2005). Neste conto de O Banquete, "Assim surgiu o amor", que compõe o primeiro de uma série de contos de uma coletânea sobre a temática sexual; ele fala do mito da alma gêmea, mas aborda a possibilidade de reencontro com esta parte que lhe foi tirada, sendo ela de sexo oposto ou semelhante. Platão teve sua homossexualidade dita não pela primeira vez neste texto. Assim como outros, considerados grandes homens da história, como Michelangelo e Leonardo da Vinci, à título de exemplos.

Retomando a minha pretensa introdução gramatical. Assim como a língua é uma convenção social, isto é, sua morfologia e a estrutura que a torna inteligíveis. Também os processos identitários. Por chamarem-se papéis, podemos questionar de sua rasura... re-fazer histórico... É fato que as sociedade vão se tornando mais permissíveis conforme vão clareando conhecimentos sobre os fatos antes desconhecidos – e nisto a ciência presta grande auxílio. Concluindo, faço uso das palavras do Grupo Gay da Bahia, "As pessoas geralmente temem aquilo que não entendem, e odeiam aquilo que temem", (FIGUEIRÓ, 2007, p28).

 

 

Uma nota sobre Ser e Sentir: O Ser está intrincado, indissociável dos sentidos, dos afetos. Em todas as suas conotações. Há ser sem sentir? O que será  que não sente... o que sente aquilo que não é?

 

 

Bibliografia

ABREU, C. F. Citação in: http://osapatoblog.blogspot.com/2008_04_01_archive.html

COSTA, F. M. As cem melhores histórias eróticas da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

FIGUEIRÓ, M. N. D. Homossexualidade e educação sexual: construindo o repeito à diversidade. Londrina: UEL, 2007.

FREUD, S. . Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

1 comentários:

Unknown disse...

Li sobre o artigo, afinal a parcela que fez com que tal ponto fosse pautado é minha (posso tomar esta parte dos créditos correto?! rsrs)... Porem minhas curiosidades e duvidas sobre o assunto se estende, algo que talvez seja melhor um dialogo presencial, quem sabe na Virada.... veremos!!!!

 

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