domingo, 30 de maio de 2010

para ser lido ao som de "O mistério do planeta" - Novos Baianos.

Tenho andado por aí, sentindo. Tenho acordado com saudades. Receita de família, azeite, queijo ralado e vinho... me deixam querendo repetir, mas uma repetição diferente, em outro lugar. Filha do vento, ele me leva pela janela aberta e deixa-me em meio a marginal. Que coisa louca e linda, pontos infinitos de luzes vindo na minha direção, pode ser um tanto desesperador. Asfaltos depois, metros e esquinas e calçadas e viadutos e sopa e vinho e pão. A gente tenta, faz como dá... jogando meu corpo no mundo, mostrando como sou e sendo como posso!

sábado, 22 de maio de 2010

                                           

Sí­ cada dí­a cae, dentro de cada noche,
hay un pozo
donde la claridad está prisionera.

Hay que sentarse en el borde
del pozo de la sombra
y pescar la luz caí­da
con paciencia.


Pablo Neruda (Últimos Poemas)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Acho que tenho uns afetos, que são dignos de serem vividos. E é estranho, ou é muito coerente, que eu me ponha a pensá-los e escrevê-los agora. Este cotidiano que transborda espaços e faz buscar sentidos. Às vezes alcançados, às vezes adiados. Estas 2 horas de sextas-feiras bem vividas. De pretensões projetadas para que se repitam, dão transparência, se não coerência e entendimento total. E quem disse que seria fácil? E quem disse que é preciso não ser? Talvez seja o desapego ao controle este facilitador. Tem coisas que não se diz; que não se nomeiam. Mas também porque não são precisas e já estão lá, porque se sabem sendo assunto sem dizer. Ninguém está falando do café...

quarta-feira, 19 de maio de 2010




Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere alguma coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...

Clarice Lispector

terça-feira, 18 de maio de 2010

(Ysé) - Não vá.
(De Ciz) - Mas, estou-lhe dizendo, é absolutamente necessário!
...
(Ysé) - Amor, não vá...
Pela segunda vez eu lhe peço que não me abandone mais e não me deixe sozinha.
Você me censurava por ser orgulhosa, por nunca querer dizer nem pedir nada. Pois bem, fique satisfeito. Eis-me humilhada.
Não me abandone mais. Não me deixe mais só.

Amavelmente estúpido, ele não entende nada e acha que pode se vangloriar:
- Então, no fim, a gente tem de confessar que precisa mesmo do marido! etc.

É quando ela lhe sussurra uma dúvida:
Não confie muito em mim.

Ele não acredita nisso, Ysé tem que esclarecer:
Não sei, sinto em mim uma tentação...
E peço que não me venha essa tentação, porque não convém...

Pronto, o dito escapou. Não era contra os perigos da China que ela fazia seu apelo, mas contra a coisa mais próxima. Em síntese, Ysé lhe diz: projeta-me de mim mesma. Uma passagem suprimida na versão para o palco, e recuperada na nova versão de 1948, diz, de maneira ainda mais crua, para que serve um marido, pelo menos para Ysé:

Afinal, eu sou mulher, não é tão complicado assim.
De que precisa uma mulher
Senão de segurança, como a abelha atarefada na colméia,
Limpinha e bem fechada?
E não esta liberdade assustadora! Acaso não me entreguei?
E queria pensar que agora estaria muito tranquila,
Que estava garantida, que sempre haveria alguém comigo
Para me conduzir, um homem...


Trecho do livro O que Lacan dizia das mulheres, Colete Soller.
http://significantess.blogspot.com/
Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu.

Selecção de Diego Mesa
In Memorial do Convento, Editorial Caminho, 43.ª ed., p. 121

http://caderno.josesaramago.org/2010/05/18/943/

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Acho que entendi. ...Mas também pode ser só empolgação. Equívoco, atropelamento ou confusão. Talvez tenha alcançado um entendimento breve e sutil. Leve e derradeiro. Um pouco infame para alguns. Tão fulgaz para tantos outros. Entendi! Ou não. O importante mesmo é que ainda não sei definir nem o que é, nem quando acontece. ENCANTAMENTO. Mais leve e sem aquela estaticidade colenta, pesada de quem tem que carregar o sofrimento e a presença ausente o tempo todo, que pesa. Sem ser Paixão, mas sendo tão apaixonadamente, que despede-se do ser Paixão, pra ser Encantamento leve e flutuante. Nem por isto leviano. Mas pequenamente aqui!
Creio que entendi sim. Que o encantamento deixa percorrer espaços. Não entendo o que é paixão. O que é apaixonar-se, nem quando ocorre. Quando acontece? Encanto-me quando digo me encantar. Quando minha boca diz as palavras tão leves e brincalhonas, que como bolhas de sabão soltas percorrem o ar e num 'ploc' explodem... respingando orvalho pelos arredores. Não sei como ocorre. Porque não tem de ocorrer sempre do mesmo jeito. E se não ocorre sempre igual, como vou saber quando vem? Vem quando eu disse que chegou! Só assim. E é tudo o que dá pra nomear...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

São pertinentes estas partículas intercaladas numa concatenação lógica. Isto nos dá que esta sequência seja uma frase. E, gramaticalmente falando, análise morfológica e sintática, as palavras não poderiam estar rearranjadas de qualquer outra forma. Talvez uma ou duas outras formas. Mas o que a faz ser o que realmente é? Vou me reservar o requinte de guardar esta questão.

            Adentrando no campo da sexualidade – assunto propriamente de interesse que me faz pulsionar o movimento desta escrita –,  temos algum cuidado ao trabalhar os termo, devido a conotação que possam ter, os encargos que podem carregar. Opção sexual não é uma opção! No campo dos estudos sobre Educação Sexual, área que atualmente tenho me dedicado bastante, defendemos o uso da terminologia Orientação Sexual. À exemplo da Rosa dos Ventos, instrumento utilizado na navegação, também a orientação sexual aponta para um pólo. A sexualidade é complexa, dizendo desta forma não se diz muito; mas se diz tudo o que se pode dizer em generalização. Multideterminada por fatores não totalmente esclarecidos e precisos, é a própria 'essência' do SER humano. A multiplicidade de criações e reinvenções do próprio corpo, da mente, da identidade, e de outros fatores que se somam num contexto cultural e político.

            Detendo-me mais focadamente, porque afirmei a defesa do uso de Orientação Sexual e não Opção? Simples, ao modo como o psicanalista Jacques Lacan falava da estrutura neurótica na constituição do indivíduo – não é louco quem quer! Afirmo: Não é homossexual quem quer! Tomo plano seguro baseando-me no trabalho da Dra. Mary Neide Damico Figueiró, professora do Departamento de Psicologia Social da Universidade Estadual de Londrina. O livro de sua organização, "Homossexualidade e Educação Sexual: construindo o respeito à diversidade (2007), de sua organização, aborda as questões que o intitulam pautadas em sólido conhecimento na área.

            Relatos de histórias pessoais de homossexuais repetem sempre um ponto em comum: o sofrimento. A homossexualidade é apontada como algo que faz sofrer. "É possível garantir que não é opção, primeiramente, porque ninguém escolheria o caminho do sofrimento, pois ser homossexual, na maioria das sociedades, é ser vítima de opressão, desprezo, desamor e incompreensão" (FIGUEIRÓ, 2007, p29). A homossexualidade não raramente é descoberta de forma muito penosa. O sujeito se vê sozinho com sentimentos que a sociedade desaprova e comumente com medo da perda do amor das pessoas que lhe são próximas. Opção?      Cito mais um fragmento do livro de Figueiró:

 

"não é uma questão de opção; é questão de sentimento, pois a pessoa sente desejo e, muitas vezes, apaixona-se por alguém do mesmo sexo, independente de sua vontade, de sua escolha, da mesma forma como um heterossexual sente atração e apaixona-se por uma pessoa do sexo oposto e não sabe explicar porque sente tal atração, não conseguindo mudar essa situação, mesmo que quisesse." (2007, p28)

 

O psicanalista William Peres (apud FIGUEIRÓ, 2007, p40) nos traz uma visão muito interessante quando afirma que, quando pensamos em homossexualidade, nos ocorre em pensar no sexo entre duas pessoas iguais; e que necessitamos dar um passo em direção a pensar o amor entre duas pessoas iguais, apontando como sendo um obstáculo a isto os nossos preconceitos. O sentir não pede RG, não questiona seu endereço, situação social ou quaisquer outros pré-requisitos. E a sensibilidade física e emocional do humano é construída.

Mary Neide se vale da citação de Ann Landers, uma colunista americana, quando diz que poucas coisas na vida são cem por cento, e no campo da sexualidade trabalhamos com nuances. Isto diz que se traçarmos uma linha horizontal que vai de um ponto A, que seria homossexualidade, até um ponto B, indicando heterossexualidade, não raro, os homens e mulheres tem deslizamentos por este eixo durante sua vida. É uma hipótese interessante que o próprio Freud defendeu num momento de sua construção da teoria psicanalítica, o da potencialidade bissexual do ser humano; posteriormente abandonando-a por abordar a sexualidade a partir de outra perspectiva. Mas posso citá-lo no que diz numa carta à uma mãe que lhe escreve sobre seu filho: Homossexualidade não é seguramente uma vantagem, mas não há porque se ficar envergonhado, com isso, pois não é vício, nem degradação e nem pode ser classificada como uma doença, (2006, p?).

José Ângelo Gaiarsa, também psicanalista, defende que "o corpo humano, tanto do homem como o da mulher, é basicamente semelhante na forma, na consciência, no calor e na sensibilidade", (apud: FIGUEIRÓ, 2007, p41). Caio Fernando Abreu, escrito e homossexual assumido é muito feliz quando poeticamente diz "só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ter genitália igual, e isso é detalhe".

Ao abandonar a perspectiva de abordar o Inconsciente relevando importância para os papéis sociais identitários neste eixo, Freud dá um salto em reconhecer a potência do desejo. Que de desejo e por ser desejo, em si, simplesmente deseja.

Houve um período em que a homossexualidade era considerada uma doença, integrava a CID-10 (Código Internacional de Doenças) e o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais), ambos instrumentos utilizados para o diagnósticos de psicopatologias e transtornos desta ordem. Após longa luta por parte de movimentos relacionados, e algum avanço na perspectiva cultural,  homossexualidade saiu destes manuais e hoje é compreendida como um elemento identitário da construção do papel social e da compreensão de si do indivíduo. Constitui em crime ético o profissional, psicólogo/psiquiatra, que abordarem a sexualidade como uma patologia a ser curada.

Neste movimento, percebemos a história se fazendo e refazendo espaços e afetos. Os preconceitos vão sendo superados, o que demonstra algum... avanço. Demonstra ainda o quanto a determinação de nossos tabus e visões são culturais e sofrem influência de elementos e momentos históricos. Defendo, neste ponto, o caráter mutante e não estático da história, que permite-nos rever antigas posições. Permitindo nos com o tempo um outro conhecer. E cada coisa não é o que é, mas o que cada época, geração, faz dela. A própria homossexualidade tem sua história, que por extensa, não abordarei aqui. Apenas insiro a pincelada para ilustrar, citando que há, num conto de Platão, alusão a homossexualidade, (COSTA, 2005). Neste conto de O Banquete, "Assim surgiu o amor", que compõe o primeiro de uma série de contos de uma coletânea sobre a temática sexual; ele fala do mito da alma gêmea, mas aborda a possibilidade de reencontro com esta parte que lhe foi tirada, sendo ela de sexo oposto ou semelhante. Platão teve sua homossexualidade dita não pela primeira vez neste texto. Assim como outros, considerados grandes homens da história, como Michelangelo e Leonardo da Vinci, à título de exemplos.

Retomando a minha pretensa introdução gramatical. Assim como a língua é uma convenção social, isto é, sua morfologia e a estrutura que a torna inteligíveis. Também os processos identitários. Por chamarem-se papéis, podemos questionar de sua rasura... re-fazer histórico... É fato que as sociedade vão se tornando mais permissíveis conforme vão clareando conhecimentos sobre os fatos antes desconhecidos – e nisto a ciência presta grande auxílio. Concluindo, faço uso das palavras do Grupo Gay da Bahia, "As pessoas geralmente temem aquilo que não entendem, e odeiam aquilo que temem", (FIGUEIRÓ, 2007, p28).

 

 

Uma nota sobre Ser e Sentir: O Ser está intrincado, indissociável dos sentidos, dos afetos. Em todas as suas conotações. Há ser sem sentir? O que será  que não sente... o que sente aquilo que não é?

 

 

Bibliografia

ABREU, C. F. Citação in: http://osapatoblog.blogspot.com/2008_04_01_archive.html

COSTA, F. M. As cem melhores histórias eróticas da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

FIGUEIRÓ, M. N. D. Homossexualidade e educação sexual: construindo o repeito à diversidade. Londrina: UEL, 2007.

FREUD, S. . Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O amor é que é essencial. O sexo, um acidente, pode ser igual, pode ser diferente.

Fernando Pessoa, poeta e bissexual assumido.



          São derradeiros os sotaques que podemos ouvir esperando um ônibus, esperando alguém. De algum modo, são marcadores que trafegam pelos espaços da memória - jamais passado - muito mais desejo. E estas marcas percorrem traçados projetadamente expostos, projetos de um desconhecido que me habita.
          Era de noite já quando eu me dei conta de que estava sozinha e parada na beira da calçada, na rua, olhando o meio-fio que úmido reluzia por conta da luz que aquele poste lhe refletia. Poeticamente deprimente, este cenário desenhado em tons de azul, clareava... e azulava claramente uma manhã que viria. Decidi-me por sentar e ficar ali. Não me decidi o que faria em seguida - acredito que não me ocorreu pensar. E fiquei ali, não sei ao certo quanto.
          E quando novamente me dei por mim, minha embriaguez passava e o sol dava indícios de que logo surgiria. O cheiro de pão vinha daquela tradicional padaria de esquina que toda cidadezinha tem. Não havia há este tempo - Século XXI - leiteiros de porta em porta. Mas o jornaleiro, menino de bicicleta, ainda arremessava o jornal para temor das janelas da vizinhança.
          Bati fortemente as mãos nos joelhos e me pus a levantar. Me pus a caminhar. O cheiro de pão ficava para traz e aquele ar fresco demais para um paulistano me enchia o peito. Quase chegava a sufocar. Eu tinha pretensões e não sabia. Desci a rua Humaitá e quando estava já vendo o semáforo, virei à direita. Entrei por aquele bosque que deixava o ar da manhã ainda mais puro e difícil de respirar. São uns impulsos matutinos de quem não sabe explicar... Nunca li Freud com afinco!
          Passada totalmente a embriaguez. Na solidez dos sentidos sóbrios... dava 10 da manhã. Eu caminhava por ondes e quandos, sem entender porquê. Apenas um impulso ao movimento. Um desejo de que as pernas flexionassem... de fazer mover, de espacializar o desejo. Isto é tudo. E diversos sons, sotaques me acompanhavam. Eu caminhava pelos caminhos que um dia já passarei!

domingo, 2 de maio de 2010

A peça “Maçã caramelada”, de André Rezende, é um convite para que façamos do passado uma criação dinâmica no presente e uma reatualização no futuro. Maria Bitarello - (13/03/2009)
Se pensarmos a velhice como a constante presença do passado, e a infância como a estrita projeção do futuro, a vida deve ser o que acontece no meio, entre estas duas esperas; uma perda dos sonhos e um acúmulo sempre progressivo de memórias. O poeta mineiro, Murilo Mendes, tem uma frase em que diz que “a memória é uma construção do futuro, mais que do passado”, e a considero bastante pertinente se aplicada à leitura da peça de André Resende, Maçã caramelada, publicada pela Editora Cubzac (em uma edição digna de ser adquirida).
No texto – curto e pontual –, Eusébio, Greta e Adílio fazem de um encontro, ao acaso, em uma antiga emissora de TV, uma reconstrução do passado e uma recriação para o futuro. A partir do acervo da emissora, que está prestes a se perder, estes três personagens paradigmáticos pensam, conversam a respeito e nos fazem pensar – nós, os leitores – sobre a persistência da memória, o legado a que damos continuidade e que seguirá quando já não mais aqui estivermos, o mal-estar provocado por nossas escolhas e consequentes renúncias que implicam e o papel que o acaso, que a coincidência, tem em nossos encontros e trombadas entre a infância e a velhice, inclusive (e sobretudo) este que ocorre entre os três e que conduz Maçã caramelada.
Adílio, em busca das projeções da infância, nos obriga a repensar a construção da memória e se em nossas estórias existiu algum dia – ou existirá – a História, ou se não passam todas de interpretações, passíveis de cair nas peças em que nos prega a memória, tão esquecida e tão passível de criatividade espontânea, recriando-se. Seria por isso menos válida?
Greta personifica nosso mal-estar contemporâneo, nossa vertigem de possibilidades, a eterna indagação inútil sobre o caminho que não seguimos, as escolhas que não fizemos e a ansiedade que emerge de sua irrealização material, porém acompanhada de sua existência vívida em nossas projeções do que seriam memórias de um fato irrealizado. Reflexo e modelo do que passamos todos nós, homens e mulheres pós-modernos.
Eusébio amarra os dois extremos, o arrependimento e a insaciedade, a projeção e a nostalgia, em um personagem ciente de que “sem registrar os momentos da vida, o passado fica mais difícil de lembrar”, mas tampouco caindo na tentação de acreditar que “porque existe não quer dizer que é eterno”. E, acima de tudo, prezando e pregando o poder da coincidência, “a única coisa em que [conseguiu] acreditar e entender como possível”, “algo revelador das oportunidades que estão em nossa volta”, pois, justamente por “parecer acasos […], revelam um mundo desconhecido que, no entanto, não estava perdido, muito menos era inexistente”.
A chave
Tenho para mim que a chave está em Zaldok. O personagem que nunca sabemos ao certo se existiu, e muito menos quem foi, é uma pessoa distinta na memória de cada um, às vezes mais que um para uma mesma pessoa. Zaldok, personagem associado a valores mágicos de nossa infância, não envelheceu, não morreu, e tem acesso ao lugar onde nossa entrada não é permitida: o futuro.
Se para Eusébio “depois daquela maçã caramelada, tudo foi sorte na vida”, o autor nos diz também que, sim, ele, como nós, entende e sente a angústia da escolha, o medo do esquecimento, a preocupação com a memória no futuro, mas, acima disso tudo, está nos dizendo, nas palavras de Eusébio, que “[aceitemos] as coincidências”, que façamos do passado uma criação dinâmica no presente e uma reatualização no futuro, que deixemos as recordações museológicas de lado, pois não existe nossa História oficial. Seu (meu) passado está tão em transformação quanto o futuro, e aprisioná-lo no arquivo é privá-lo de vida, é assassiná-lo. A maçã caramelada é o presente de Eusébio a Adílio e Greta, é o presente de André Resende a nós.

http://diplo.org.br/2009-03,a2825
 

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