terça-feira, 29 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

[Diálogo em Si]

EU - Tenho descompassos partidos em mim. Sei, sei, eu já sabia. Ofereço aos amigos e às canções. Aos fragmentos que em mim se encontram.
ELE - [inaudível].
EU - É nisto que acredito. Penso sempre neste lado meu. Sei que você sempre me apontou, mas não, não era bem assim.
ELE - [inaudível].
EU - Tecia. Alguns cálculos foram seus, mas o limite exato de parada sempre foi meu próprio estômago quem pôs na cena.
ELE - [inaudível].
EU - Agora está tentando me ferir. Não faça isto com tantos porquês e poréns.
ELE - [inaudível].
EU - Sim, o mousse de maracujá está na geladeira.
ELE - [inaudível].
EU - Talvez só não haja tempo. Ou há tempo demais para ficarmos aqui. Trancados em nós mesmos, presos num corpo.
ELE - [inaudível].
EU - Eu avisei. Sutilmente, eu sei, foi covardia. Mas foi delicadeza também, e talvez generosidade. Eu avisei-te sem te afugetar... mas acabou que não deu certo.
ELE - [inaudível].
EU - Não sei se é pena... você acha?
ELE - [inaudível].
EU - Ah, sim, claro. Eu faço isto, pode deixar. Não será tão doloroso. Acho apenas que estas perguntas não servem pra responder a nada. Não vão encontrar algo que não está aqui. Talvez esteja na gaveta da sala.
ELE - Eu pego pra você. Deite aqui... [um estalido de beijo...]. Boa noite.
EU - Mas não se perca. Volte. Me sinto um tanto... descompartida.

segunda-feira, 7 de março de 2011

     E olhando no espelho, ele viu aquilo que um dia já deve ter sido.
Jamais fomos humanos. Mas nestas aparências mentirosas, temos a única chance de percorrer algum caminho menos tropeçante e fazer poeira por onde passamos.
     Destes pensamentos desencontrados e sua imagem no espelho, a cara cheia de espinhas e os olhos vermelhos de tanto baseado na cara, suas lembranças jogaram-no longe da história que se passava na sala.
Perguntava-se: porque tinha este sentimento desperso e impulsos que não sabia conter?
     Abriu o armário de remédios tão rapidamente que um barulho estridente da porta ragendo ecoou. Por sorte, os que estavam na sala falavam todos ao mesmo tempo e com tamanha voracidade, que não podiam ouvir nada mais do que o próprio pensamento antecipado a responder algo que não prestaram atenção e deviam rebater. Talvez sejam comunistas, socialistas, grevistas, esquerdistas, maquinistas, lojistas, figurinistas, ...qualquer ista que não faz mais do que catalogar certa medida de segurança, uma etiqueta para se manter distância e as devidas condições sanitárias.
     No armário de remédios encontrou um batom, vermelho. Não ousa causar tamanho estranhamento em seu rosto. O que não sabia, é que nesta idade, os outros que estão na sala nem se quer notariam, preocupados sempre com o próximo dizer sendo devidamente tecido nas redes das fantasias projetadas da mente de cada um. Uma conversa de surdos.
     Mas tinha nas mãos o batom e um sentimento de extravagância que subia dos calcanhares aos lábios. Teria vergonha de voltar a olhar os companheiros da sala com aquela maquiagem destacada, nova, estranha... passou o batom, e saiu pela janela. De manhã, foi só aí que notou a loucura em que estava, era um estrangeiro, nada falava do idioma daquele país. Saiu a andar, vagando... uma hora ou outra chegaria a algum lugar... Estava feliz.
Um homem dos vinhedos falou, em agonia, junto ao ouvido de Marcela. Antes de morrer, revelou a ela o segredo:
- A uva - sussurrou - é feita de vinho.
Marcela Pérez-Silva me contou isso, e eu pensei: se a uva é feita de vinho, talvez a gente seja as palavras que contam o que a gente é.

Eduaro Galeano - O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2006.

sexta-feira, 4 de março de 2011

          Figuram memórias tão indecisas quanto falsas. São claras e precisas, mas são verdadeiramente falseadas se destacando do fundo da cena. Precisava me expressar, dizer, linguagear algo... foi feito. E não sinta-se convocado a me responder. É como dizer - Não pense em elefantes? E no que é que você está pensando agora? Esta percepção não é nova, é expropriada de um seminário psicanalítico. Fulguras e lantejoulas pro colorir de um dia.
          Veio o silêncio quando nenhuma resposta chegou para o calar. Silenciar o silêncio, foi o que faltou de uma resposta nunca vinda.
           Muito tempo se passou, e o que é muito tempo ninguém sabe de certo quanto tempo é, mas é que se passaram os tempos, algum tempo, plural e tão singular... e alguma resposta veio. Uma imagem se formou com o que havia de não dito, de inaudito, em toda diagramação. Não chegou de algum lugar, foi um significante de surpresa quando, de volta os resquícios das mesmas letras, a mesma música, a mesma inscrição de onde não se veio resposta, eis que ela mesma, a resposta, aparece de assombro como em forma de constatação.
          O que há de se responder quando não há resposta. Há sempre uma resposta que fica, em sua total falta de verdade, ela sempre aparece e fica. De respostas cortantes, quando a resposta fere o que se quer bem, nem tanto se quer... um tanto de bem-dizer, de bem-querer... que se há de fazer? Há deslindres de palavras pouco usadas. Bicicletas circulando. Ladrilhos, latidos, des-orientação e sentidos forjados. ...calemo-nos. O silêncio que me falseia a respostas, de tanto tempo entendido então... desvelou a imagem tão clara que ofuscante.
          O silêncio em generosidade. E é tanta.
 

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