segunda-feira, 3 de maio de 2010

          São derradeiros os sotaques que podemos ouvir esperando um ônibus, esperando alguém. De algum modo, são marcadores que trafegam pelos espaços da memória - jamais passado - muito mais desejo. E estas marcas percorrem traçados projetadamente expostos, projetos de um desconhecido que me habita.
          Era de noite já quando eu me dei conta de que estava sozinha e parada na beira da calçada, na rua, olhando o meio-fio que úmido reluzia por conta da luz que aquele poste lhe refletia. Poeticamente deprimente, este cenário desenhado em tons de azul, clareava... e azulava claramente uma manhã que viria. Decidi-me por sentar e ficar ali. Não me decidi o que faria em seguida - acredito que não me ocorreu pensar. E fiquei ali, não sei ao certo quanto.
          E quando novamente me dei por mim, minha embriaguez passava e o sol dava indícios de que logo surgiria. O cheiro de pão vinha daquela tradicional padaria de esquina que toda cidadezinha tem. Não havia há este tempo - Século XXI - leiteiros de porta em porta. Mas o jornaleiro, menino de bicicleta, ainda arremessava o jornal para temor das janelas da vizinhança.
          Bati fortemente as mãos nos joelhos e me pus a levantar. Me pus a caminhar. O cheiro de pão ficava para traz e aquele ar fresco demais para um paulistano me enchia o peito. Quase chegava a sufocar. Eu tinha pretensões e não sabia. Desci a rua Humaitá e quando estava já vendo o semáforo, virei à direita. Entrei por aquele bosque que deixava o ar da manhã ainda mais puro e difícil de respirar. São uns impulsos matutinos de quem não sabe explicar... Nunca li Freud com afinco!
          Passada totalmente a embriaguez. Na solidez dos sentidos sóbrios... dava 10 da manhã. Eu caminhava por ondes e quandos, sem entender porquê. Apenas um impulso ao movimento. Um desejo de que as pernas flexionassem... de fazer mover, de espacializar o desejo. Isto é tudo. E diversos sons, sotaques me acompanhavam. Eu caminhava pelos caminhos que um dia já passarei!

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