quarta-feira, 3 de agosto de 2011

       Ainda que eu escrevesse de mim, seria mentira. E seria tão só, esta meia verdade indisfarçada, mal descompartida e irrefratária. Não há meios de me dizer. E isto, só o digo, porque estas palavras na minha boca, do papel e pelo texto, podem fazer voltar a incoerência da percepção que sou - não sou, fato.
       Estes versos inimpoéticos, pouco despretendidos, mal sabem se caber em si e não andam bem das pernas. Não sabem dizer mais do que dizem e suspiram o óbvio enquanto tentam fugir da mesma linha já escrita. As cartas tão amarrotadas, presas na poeira daquele baú embaixo da cama. Estas cantigas insanas.
       Sofre um varal de meio dia com um sol tímido batendo sobre as folhas molhadas, poemas quase perdidos, salvo por um minuto de concepção. As ilusões, estas sim, são verdadeiras, devem ser salvas e só dizem de honestidade. As minhas letras, estas não, mal mentem e sabem-se mentindo muito mal. Perdidas que são, nem tentam mais indagar justiça, veracidade, não mais; contentam-se agora com o calor do descaso passando por perto, ali, próximo a um ramo desfolhado, solto ao piso branco.
       Vi um certo dia, Jundiaí, interior paulista, um varal de poesia. As folhas penduradas, secas, tão limpas que me faziam inveja da clareza com que se escreviam. E o correr dos passos dos passantes embriagados, impercebidos. Era cenário lírico. Fiz meu ode.
       De tanto escrever, quase nada disse. Não teve esforço, nem tão pouco intento. Já foram todos avisados, dizer de mim, seria mentira. As palavras que faltam o fazem melhor. Melhor então é permanecer ausente.

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