sábado, 18 de junho de 2011


Entre um trem e outro, foi ali mesmo sentada num banco aleatório que a avistei. Esta mulher, negra, com seu filho num carrinho, ela carregava toda sua tristeza nos olhos. Seu filho tinha alguma deficiência. E esta mulher, com seu olhar triste não expressava revolta, nem tão somente a dor, mas uma resignação que me doía apertado no peito. Meus olhos iam mareando, querendo desaguar. Eu me segurava, não era lugar para chorar. Não queria que ela me visse chorar. Alguns bancos ao lado e haviam dois surdo-mudos conversando. Todas as outras pessoas pareciam estar alheias, mas quem sabe, talvez estivessem presos nesta captura do olhar resignado daquela mulher. Ela me doía tanto. Dava de comer a seu filho com uma paciência tímida, serena, sem expectativas nem pressa em terminar o ato. Me doía. Eu queria chorar. Seu filho então começou a falar, resmungar alguma coisa pouco compreensível. E sorriu. E então esta mulher sorriu. E então a tristeza resignada de seus olhos que me faziam querer chorar se dissipou e o nó da minha garganta se desfez. O rapaz de frente a ele começou uma conversa, brincar com o menino, a mulher sorria e conversava com os dois. Fui tomada de uma alegria que surgia de algum lugar dentro de mim que não sei precisar, mas vinha de fora, mas vinha do íntimo. Que experiência. Um vagão de trem. Um dia tão grande que nem coube em si, tão cheio de alegria que se tornou!

1 comentários:

Mulher, demasiada mãe disse...

Lendo sua estória, lembrei-me de uma por qual passei...engraçado como o que o outro nos fala remete a nós mesmos, somente a nós. Estava indo para uma cidadezinha de ônibus e o cenário era diferente do meu cotiadiano, isso me fazia querer saber mais e apreciar mais! Ao meu lado, um senhor, com grandes rugas de vida e cheiro daquela pinga, que pode ser a única companheira nesses dias de solidão. Ele me falava dela, da solidão, das mulheres que se foram, da vida que seguia, do sítio em que cuidava e vivia só. Um dia após o outro apenas, foi o que senti de suas palavras, quase que sussurrus.....

 

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