Estou em casa, faminta, e eis que ele chega, também faminto. Depois de nos desesperarmos com a falta de comida em casa e a restrição de possibilidades, começamos a buscar na dispensa algumas poucas coisas como ervilhas, milho-verde, creme de leite, uma cebola quase estragando na geladeira e um solitário pimentão verde. Só falta o macarrão e o molho vermelho - falta tudo! Por sorte tem uma padaria há poucos metros e ele desce para buscar o que falta. Macarrão ao molho rosê com condimentos disponíveis. Não estamos tão mal.
Ele chega e estou picando a cebola, uma cabeça de alho encontrada no fundo da gaveta da geladeira e o pimentão solitário. Comigo numa conversa ele adianta a água para ferver na cozinha. E aí começa: - Você vai por tudo isto de pimentão? Pimentão é só um pouquinho!

Estamos na cozinha, enquanto faço o molho - Não vai por a pimenta? - Calmamente, foi calmamente, com um esforço colossal mas eu disse calmamente: Sim, depois. - E ouvi de resposta: Ah.
Segundos depois e a insistência: Mas você pôs o creme de leite, agora a pimenta não vai pegar, vai empelotar tudo!
Sem tanta calma assim, respondi: Quem tá cozinhando aqui?! (e risos que é pra descontrair...). Fique calmo, eu sei o que estou fazendo, sempre fiz assim.
Mais uma intervenção: E a pimenta, não vai botar?...
Admito de imediato, das poucas coisas que tenho ciúme(s) no singular ou no plural: NÃO DÊ PALPITE ENQUANTO EU COZINHO. - Tenho ciúme da minha comida!