E olhando no espelho, ele viu aquilo que um dia já deve ter sido.
Jamais fomos humanos. Mas nestas aparências mentirosas, temos a única chance de percorrer algum caminho menos tropeçante e fazer poeira por onde passamos.
Destes pensamentos desencontrados e sua imagem no espelho, a cara cheia de espinhas e os olhos vermelhos de tanto baseado na cara, suas lembranças jogaram-no longe da história que se passava na sala.
Perguntava-se: porque tinha este sentimento desperso e impulsos que não sabia conter?
Abriu o armário de remédios tão rapidamente que um barulho estridente da porta ragendo ecoou. Por sorte, os que estavam na sala falavam todos ao mesmo tempo e com tamanha voracidade, que não podiam ouvir nada mais do que o próprio pensamento antecipado a responder algo que não prestaram atenção e deviam rebater. Talvez sejam comunistas, socialistas, grevistas, esquerdistas, maquinistas, lojistas, figurinistas, ...qualquer ista que não faz mais do que catalogar certa medida de segurança, uma etiqueta para se manter distância e as devidas condições sanitárias.
No armário de remédios encontrou um batom, vermelho. Não ousa causar tamanho estranhamento em seu rosto. O que não sabia, é que nesta idade, os outros que estão na sala nem se quer notariam, preocupados sempre com o próximo dizer sendo devidamente tecido nas redes das fantasias projetadas da mente de cada um. Uma conversa de surdos.
Mas tinha nas mãos o batom e um sentimento de extravagância que subia dos calcanhares aos lábios. Teria vergonha de voltar a olhar os companheiros da sala com aquela maquiagem destacada, nova, estranha... passou o batom, e saiu pela janela. De manhã, foi só aí que notou a loucura em que estava, era um estrangeiro, nada falava do idioma daquele país. Saiu a andar, vagando... uma hora ou outra chegaria a algum lugar... Estava feliz.