terça-feira, 20 de novembro de 2012

Chega um dia, num dado momento, que se para de arrumar a casa. Para de cuidar do espaço, deixa de varrer os cantos, se esquece de olhar pra baixo, pros lados, pros altos, só esquece. Ou olha e não vê. Então, quando se dá conta, neste dia você começa a se perguntar o que aconteceu que tudo ficou tão desorganizado e malfeito. Todas as horas continuam preenchidas e tudo está tão acelerado como era. Mas tinha um tempo em que você instante, e punha as coisas todas no lugar. Mesmo que elas voltassem a se desorganizar, você repetia, insistente o mesmo cuidado, a reordenação dos astros ou sabe lá que mística ou outra bobagem tão boba. Como de sobressalto, descuido, se dá conta que faltam os olhos. Mas não faltam apenas os olhos, senão os braços, abraços e a outra pessoa inteira que foi se perder por aí, infinda. O desorganizar destes dias sem dança não tem qualquer discrição, aparece na pilha de roupas pela sala, no pó que fará anos em breve, na estante no canto e nos restos e respingos sobre o fogão. Aquela noite tediosa de tevê e diligências sobre o último suspiro antes da perda de paciência e o grito derradeiro. Tudo tem de ir para algum lugar, as coisas tem de ir para algum lugar... pensa. Só não acha o bolso certo onde meter a mão e resgatá-las quando a raiva é engolida e o grito ecoa culpado, torturante, sobre os pensamentos caídos aos cantos, junto ao pó não varrido. Fica assim, até uma nova insistência, nova alegria, nova diligência... nova repetição desacusada das mesmas ilusões, tão desavisadas, que se partirão em cacos miúdos, perfuros nos dedos teus.

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