Ela escrevia, ao som de Piazzolla. E ele, que tocava gaita, nem sabia que ela estava ali. Tocando a ressurreição do anjo, tão perto que sentia a espuma dos lábios nos olhos. Só ela o via, só ele a tocava.
Não faz sentido mas todo mundo vê.
A foice, cortou. A firmeza do passe das páginas, este pianista que as vira, quase rasga, traveste de novas notas.
Só o violoncelo sabe o que é a delicadeza. A própria morte em suas cordas.
Como faz bem a escuridão ressoar.
Dezenas de pessoas ouvem a mesma peça de Piazzolla. E ninguém sabe que ela está ali. Ninguém sabe deste expresso em arte, pulsão em versos que escrivinha.
Esta cabeça baixa que não pede olhos, este olhar mirante que deixa as letras turvas e quase enigmáticas.
Ninguém soube. Imóveis, alguém viu.
* ao som de Guerra Peixe e Piazzola, CCSP, 13/03/12, 20h.
Conteúdo deste blog e o maior reconhecimento de 2023
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