quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

[Hilda Hilst]

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascíviaNem omiti que a alma está além, buscandoAquele Outro.
E te repito: por que haveriasDe querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.(Do Desejo - 1992)
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedidaÁrduaConstrutor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimoEu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)
Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caosA vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeusPorque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem verA alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)
(Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

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